Moral da história: não acredite imediatamente em nenhum método milagroso ou fórmula matemática para se aprender uma língua estrangeira em poucas horas, em alguns dias ou meses.
Nesta série, vou elencar três mitos relacionados ao aprendizado de línguas estrangeiras, em especial do inglês, confira abaixo o primeiro mito:
MITO 1: Para aprender inglês, preciso aprender a falar o idioma.
Quando se aprende uma língua estrangeira num curso de idiomas, normalmente você receberá treinamento em 4 habilidades básicas – entender, ler, escrever e falar. Duas dessas habilidades são chamadas de “passivas”, ler e entender; as outras duas são “ativas”, escrever e falar. Normalmente, as habilidades ativas são adquiridas mais lentamente e com mais dificuldade que as habilidades passivas. Quero frisar a palavra normalmente porque cada aprendiz pode apresentar maiores ou menores dificuldades/facilidades em quaisquer das 4 habilidades.
Nas escolas (Ensino Fundamental e Médio), de acordo com os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), estudados nas disciplinas de pedagogia das faculdades que oferecem cursos de licenciatura, como é o caso da Faculdade de Letras, a ênfase é no uso instrumental da língua estrangeira. Em outras palavras, nas escolas se ensina leitura.
O que devo fazer? Estudar as 4 habilidades? A resposta mais sensata é – sim, se você tem tempo, material e motivação suficientes para tal. Caso contrário, a resposta é quase sempre não. Aprender inglês é uma atividade com fins bem definidos. É diferente de aprender física ou química na escola, já que a maior parte dos alunos não vê objetivos claros para a aquisição desses conhecimentos. Aprender inglês é diferente – o objetivo é quase sempre bastante diáfano. Você quer/precisa aprender para quê?
- para viajar;
- para ler artigos científicos/textos técnicos da minha área de atuação;
- para namorar grigos(as);
- para ler revistas e literatura em inglês;
- para participar de fóruns online;
- para trabalhar (digamos, com controle de tráfego aéreo, em que a terminologia internacional é toda em inglês);
- para não perder meu emprego (embora não precise usar o inglês no dia-a-dia);
- para jogar vídeo-game;
- para tirar onda na escola/no meu local de trabalho;
- para receber e acompanhar turistas;
- para fazer palestras/apresentações orais ou dar aulas;
- para escrever artigos científicos;
- para traduzir textos;
- para desafiar minha capacidade de aprendizado;
- para me divertir/passar o tempo aprendendo algo novo;
- para entender filmes/seriados;
- para aprender mais sobre o mundo/os países anglófonos, para ter acesso à cultura desses países.
Ao contrário do que 9 entre 10 cursos de idiomas anunciam, falar inglês não é, dependendo do seus objetivos, a habilidade mais importante. As propagandas de cursos são quase sempre monocórdicas: “Venha para o nosso curso! Aqui você vai falar inglês!” No caso do brasileiro de classe média (baixa ou alta), que trabalha numa área técnica qualquer e viaja uma ou duas vezes na vida para os Estados Unidos (ou Inglaterra, ou qualquer outro país anglófono), a habilidade falar talvez seja a menos importante das quatro. Para esse brasileiro, é muito mais importante saber ler e interpretar textos em inglês, saber escrever e-mails para seus contatos no exterior, para empresas estrangeiras (muito útil quando aquela sua encomenda da China demora 3 meses para chegar), ou compreender filmes, seriados e vídeos no YouTube para não ficar dependendo das boas almas que legendam esse material. A habilidade falar, portanto, só será usada nos poucos dias em que você ficar no exterior, e muito provavelmente o vocabulário de que você vai precisar se restringirá a uns poucos campos semânticos – hotel, restaurante, guia de turismo, transporte, compras.
Portanto, para aprender inglês, você não precisa falar o idioma, e sim desenvolver as habilidades necessárias para desempenhar as tarefas de acordo com os seus objetivos (e pode ser que falar seja uma [apenas uma] delas).
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