Aprender a falar um idioma estrangeiro consiste não apenas em assimilar seus elementos, mas também em evitar a interferência negativa da língua materna. Embora este tipo de interferência seja mais evidente na pronúncia, também ocorre no plano gramatical, levando o aluno a produzir freqüentemente frases desestruturadas e incompreensíveis. O próprio aluno normalmente sente que algo está errado, mas a idéia que ele está tentando colocar está tão intimamente associada à estrutura usada no português, que parece não haver outra maneira. O estudo comparativo de dois idiomas leva à clara identificação dessas diferenças entre eles e permite prever os erros bem como procurar evitá-los antes de se tornarem hábitos.
Este trabalho é resultado de uma minuciosa análise dos erros mais freqüentemente observados no ensino de EFL (
English as a Foreign Language) a brasileiros. Muitos destes erros podem ser observados mesmo em alunos que já alcançaram níveis avançados de fluência, e resultam da falta de contato com a língua ou de um contato através de instrutores que falam um inglês "aportuguesado".
Além da interferência negativa da língua materna, temos aquela proveniente da generalização de regras do idioma estrangeiro; ou seja, da não-observância de exceções
1. Formulação de idéias interrogativas e negativas: (erro comum apenas no início do aprendizado)
A primeira grande dificuldade que o brasileiro, falante nativo de português, iniciando seu aprendizado em inglês enfrenta, é normalmente a estruturação de frases interrogativas e negativas. Frases interrogativas em português são diferenciadas apenas pela entonação, não exigem alteração da estrutura da frase. No inglês, além da entonação, temos, no caso dos
Be Phrases (frases com o verbo to be ou com qualquer outro verbo auxiliar ou modal), a inversão de posição entre sujeito e verbo:
- He's a student. - Ele é estudante.
Is he a student? - Ele é estudante?
I can speak English. - Eu sei falar inglês.
Can you speak English? - Você sabe falar inglês?
E no caso de
Do Phrases, frases em que não há verbo auxiliar, surge a necessidade de uso de verbo auxiliar
DO para formular perguntas ou frases negativas:
- He speaks English - Ele fala inglês.
Does he speak English? - Ele fala inglês?
He doesn't speak French. - Ele não fala francês.
Além de contrastarem profundamente em relação ao português, esses dois tipos de estruturas contrastam entre si. O contraste entre
Be Phrases e
Do Phrases aparece nos modos interrogativo e negativo.
Be Phrases fazem a inversão de posição entre sujeito e verbo para formação de frases interrogativas ou negativas, não precisando de verbo auxiliar, enquanto que
Do Phrases precisam do verbo auxiliar
DO. Isto representa uma dupla e acentuada dificuldade para os falantes nativos de português, no qual praticamente não existem verbos auxiliares e a formação de frases não é afetada pelos modos (afirmativo, negativo e interrogativo). O modo interrogativo em português, como vimos no exemplo acima, consiste apenas em uma diferente entonação, enquanto que em inglês exige uma significativa alteração na estrutura da frase, além da entonação. A dificuldade não é de entender, mas sim de assimilar e automatizar. Quem fala português como língua materna não está acostumado a estruturar seu pensamento dentro destas normas e precisará praticar exaustivamente para conseguir "internalizar" essas estruturas.
2. The subtle presence of the verb TO BE - Presença/ausência do verbo TO BE (erro comum em nível iniciante)
Do ponto de vista fonético, em frases afirmativas, a presença ou não do verbo
TO BE é quase imperceptível aos ouvidos do aluno principiante que está acostumado com a clara sinalização fonética da presença de qualquer verbo em português. Obviamente, a função gramatical de um verbo numa frase é preponderante. Portanto, se faltar onde deveria estar, ou se ocorrer quando não deveria, o erro é grosseiro. Observe os seguintes exemplos:
I lost.
I'm lost.
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Eu perdi.
Estou perdido.
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It hardly works.
It's hard work.
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Isto dificilmente funciona.
Isto é trabalho duro.
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They like children.
They're like children.
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Eles gostam de crianças.
Eles são como crianças.
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It looks like it's going to rain.
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Parece que vai chover.
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O aluno com este tipo de dificuldade deve treinar o ouvido e a pronúncia, até acostumar-se a perceber a grande diferença funcional deste pequeno detalhe fonético.
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